domingo, 30 de novembro de 2014

Mandinga e Água Mineral - Assim Começou o Blues Brasil



Curiosamente andei lendo alguns antigos de 20 e até 30 anos atrás sobre alguns registros de blues brasileiro e sobre a descoberta do blues no Brasil, e me deparei com dois álbuns de grande importância para a disseminação do estilo no país, são eles: Mandinga de André Chistovam e Água Mineral da banda Blues Etílicos. E concordei com alguns críticos que argumentam serem estes os álbuns chaves que abriram as portas do blues em nossas terras.
Mas, porque disto? O que levou Mandinga e Água Mineral a catapultar o blues brasileiro?
Você deve estar se perguntando que antes destes registros estava Celso Blues Boy, o primeiro artista brasileiro a usar o termo Blues em seu nome, e vender seus álbuns e show s caracterizando e divulgando seu trabalho como blues, lançando o primeiro álbum de blues no Brasil o “Som Na Guitarra” de 1984, que tem clássicos do blues brasileiro como “Aumenta que Isso Aí é Rock’n’Roll”, “Fumando na Escuridão”, e “Brilho da Noite”, além de B.B. King o reconhecer como grande músico de blues, tocar no Festival de Montreux, ser convidado para integrar os The Commitments e outros feitos?


Eu também fazia a mesma pergunta, até ler uma entrevista que pode ser conferida no blog http://mannishblog.blogspot.com.br do produtor cultural Eugenio Martins Jr.. E achei uma das respostas que tanto procurava! Durante a entrevista, em uma pergunta de Eugênio ao também produtor Herbert Lucas (um dos responsáveis por grandes shows de blues e divulgação do estilo no país), este fez a seguinte afirmação: “O Celso Blues Boy era mais rock. Ele não se assumia como blues absoluto. Ele era blueseiro na essência, mas, fazia rock. Talvez ele tenha sido o primeiro bluseiro. Olha que coincidência, ele havia tocado com o Sá e Guarabyra na adolescência e foi o Sá quem deu o apelido a ele. Surgiu o Celso Blues Boy que veio a ser a lenda do blues nacional. Veja bem, o Celso já vinha tocando a muitos anos antes do André (André Christovam), mas, ele não se assumiu como blues nem fez esse marketing”. Uma declaração desta de um nome importante para a história do blues no Brasil já nos remete a concentrar as nossas atenções nos discos Mandinga e Água Mineral. Certo?
Pois bem! Para entender mais sobre o período que estes álbuns em questão foram lançados, e conseqüentemente compreender o “boom” destes artistas comecei a conversar com amigos e conhecidos, que como eu viveram aquela época. E nestas conversas chegamos a vários pontos em comum que devemos levar em conta. Primeiramente vamos tentar compreender o movimento cultural da explosiva década de 80.
A princípio devemos destacar que no fim dos 70’s e início dos 80’s começou a aparecer por aqui artistas de jazz como Ray Conniff, Oscar Peterson, Dizzie Gillespie e Ray Charles, que esporadicamente executavam blues em seus repertórios, festivais como o Rio Jazz Montreux no Maracananzinho e o Free Jazz, eventos diversos no “alta classe” 150 Night Club, bar do hotel Maksoud Plaza, que apresentava uma gama de shows voltados para o blues como Junior Wells, Buddy Guy, John Hammond, Steve Ross, Alberta Hunter e etc. e também diversos shows do rei B.B. King. Então nota-se uma abertura do mercado e da mídia para o blues, tornando uma novidade de consumo cultural, e um solo fértil para novos artistas do gênero.
O público nesta época estava ávido pela diversidade, era a década do fim da ditadura (leia-se liberdade de expressão), do primeiro e maravilhoso Rock’n’Rio, ou seja, o auge do que era interessante no mundo caindo de paraquedas aqui na República das Bananas, da rádio Fluminense (A Maldita) divulgando a garotada esperto do pedaço, do Circo Voador, local histórico onde bandas novas e consagradas se apresentavam.
E neste celeiro o rock brasileiro cantado em português teve seu “boom”, representado principalmente por bandas como Blitz, Paralamas do Sucesso, Titãs, RPM, Cazuza, Engenheiros do Havaí, Biquíni Cavadão, Ultraje a Rigor, Kid Vinil, Ira!, Barão Vermelho, Camisa de Vênus, Leo Jaime, Legião Urbana, etc.
E nessa onda os artistas de blues brasileiros pioneiros como Celso Blues Boy, André Cristovam e a Blues Etílicos (na verdade existiam outras bandas e artistas, mas, foram estes que mantiveram uma carreira sólida e de destaque) fazendo blues em português pegou carona.
No mundo caro leitor (a), tudo, absolutamente tudo é uma questão de estar no lugar certo na hora certa, o solo estava preparado da melhor forma possível para plantar o blues no Brasil, os músicos tinham espaço, divulgação, público, e apoio cultural.
Nesta onda em 1988 foram lançados os álbuns em questão (Mandinga e Água Mineral). O André Christovam tenho que ainda destacar o fato de conhecer os caminhos das pedras em relação à música popular da época, ou seja, o rock brasileiro, uma vez que já tinha trabalhado com, Kid Vinil & Os Heróis do Brasil, Rita Lee e Roberto de Carvalho, Raul Seixas e Marcelo Nova, entre outros, e isso sem falar na bagagem cultural que adquiriu só de ter sido roadie de ninguém menos que Albert Collins na época que estudava musica nos EUA. André teve a grande sacada de gravar um disco com a mesma malandragem dos bluesmen originais, mas traduzida para a língua pátria brasileira, e tome clássicos do blues verde e amarelo como Confortável (fantástica versão de Built for Confort do Howlin’ Wolf), Genuíno Pedaço de Cristo e Dados Chumbados.
A Blues Etílicos por sua vez estava lançando Água Mineral sendo este seu segundo trabalho, mas, desta vez através de uma grande gravadora, a Eldorado, recebendo melhores estúdios de gravação, distribuição, recursos financeiros e trabalho de marketing. Além de apresentar em suas fileiras músicos interessantes e de inegável talento, como Greg Wilson, um musico norte-americano, natural do Mississipi com bacharelato em música pela Universidade da Carolina do Sul, que conferia um toque de legitimidade e direcionamento correta à banda ao executarem tanto o blues americano, quanto a forma correto de se criar blues em português. Apresentava também a inigualável harmônica de Flávio Guimarães, que se tornou referência no blues e no rock nacional pela sua técnica exuberante e bem encaixada no grupo. E magia da guitarra slide (novidade por aqui, técnica também dominada por André Christovam) de Otavio Rocha.
Até aqui estava tudo armado para a explosão do blues no Brasil, mas, teve outro toque do destino que completou todo quadro preparado até então, e este toque foi o Primeiro Festival Internacional de Blues no Brasil, que foi realizado em julho de 1989 em Ribeirão Preto/SP, com participações de Buddy Guy, Junior Wells, Albert Collins, Magic Slim e Etta James, com grande repercussão na mídia nacional, tendo como abertura na noite de Albert Collins o André Christovam, e na de Buddy Guy a Blues Etílicos.
Além do festival de blues de Ribeirão Preto ocorreu também o Free Jazz Festival no mesmo ano, com a participação de André Christovam na noite do dia 27 de agosto abrindo a noite de blues do festival para ninguém menos que John Lee Hooker e a banda The Coast to Coast Blues, e John Mayall & The Bluesbreakers.
A resposta do público diante de toda esta exposição na época foi tamanha que durante esse período a Blues Etílicos participou de vários programas especiais na TV Cultura, Rede Manchete e MTV, além de ter suas músicas amplamente executadas nas rádios em todo país.
O resultado disso tudo foi que os discos em questão venderam mais de 40 mil cópias. Juntos, os álbuns destes artistas na época venderam mais do que todos os discos de blues nacionais e internacionais lançados no Brasil até então. Venderam mais juntos do que toda a discografia internacional de todos os tempos, incluindo BB King e Robert Cray, de acordo com a pesquisa de Luiz Fernando Vitral que na época era da revista Veja.
Neste momento, em minha opinião, foi o divisor de águas para o gênero no Brasil. A partir deste cenário, surgiram várias bandas nacionais influenciadas pelo som da Blues Etílicos e de André Christovam, além de pipocar no Brasil inteiro diversos festivais de blues, selos independentes trabalhando com o estilo e músicos fantásticos. 
E neste ano de 2014 completam-se 25 anos de lançamento das pedras fundamentais para o blues brasileiro, os álbuns Mandinga e Água Mineral e analisando todo o contexto da época, acredito que conseguimos compreender como e porque estes álbuns são além de clássicos a catapulta do estilo para o blues brasileiro.  

sábado, 18 de outubro de 2014

OTAVIO ROCHA - SINÔNIMO DE EXCELÊNCIA EM SLIDE GUITAR



Slide guitar definitivamente não é pra qualquer um! Porque afirmo categoricamente isso?  Digo não pela técnica específica utilizada, mas, pelo fato de se exigir extremo controle do “ambiente musical” para provocar nuances corretas e fazer a guitarra slide chorar! Sim, isso mesmo, se a guitarra no blues canta... a slide guitar no blues chora! E como chora bonito! Costumo comparar a slide guitar como um cavalo selvagem que você tenta domar... Você pode até conseguir subir nele, mas, se não tratá-lo corretamente... vai comer poeira direto do chão!
Mestres nesta técnica são poucos, podemos entre outros citar Duane Allman, Derek Trucks, Ry Cooder, Warren Haynes, Sonny Landreth, George Harrison, Dave Hole e Johnny Winter, e os da velha guarda sendo Elmore James, Muddy Waters, Robert Johnson, Johnny Shines! Existem muitos barulhentos, que apenas incomodam nossos ouvidos, e claro, o que é ruim não devemos citar, primeiro porque é antiético e depois... como dizia a minha avó:” Não fale o nome da coisa ruim senão ela espalha!”
Mas, interessantemente temos grandes guitarristas slides no Brasil! Sim, alguns que particularmente considero mestres, e entre eles está Otavio Rocha.
São vários os motivos que o considero mestres nesta arte. Entre estes motivos está o fato que Otavio Rocha (e sua banda Blues Etílicos é claro!), desbravou o blues no Brasil, junto a nomes como Celso Blues Boy e André Christovam nos anos 80. Sim, o mundo, era bem diferente do que é hoje, principalmente no nosso país tropical, atrasado em tecnologia e comércio, saindo de uma horrorosa ditadura, onde não existia internet, TV por assinatura, acesso fácil a importações de Lps, etc., levando a uma ignorância musical onde ninguém conhecia blues. Claro, existiam exceções, mas, eram dispersas.
Otávio neste cenário, conforme inúmeras declarações próprias, aprendeu e desenvolveu a sua técnica através de erros e acerto, a tornou refinada e apresentou ao público brasileiro através da sua slide guitar uma linguagem musical “nova”. O tiro foi certeiro, pois o blues de sua banda foi cativante, e começaram a chamar a atenção do público, ao ponto de participarem em 1989 do histórico primeiro Festival Internacional de Blues, na cidade de Ribeirão Preto, abrindo o evento, tocando na mesma noite que Buddy Guy.
Outro exemplo de pioneirismo de Otávio Rocha e seus comparsas foi a criação da única side band do Brasil (pelo menos é a única que eu conheço!) a Blues Groovers com Ugo Perrota (baixo) e Beto Werther (bateria), respeitados músicos de blues brasileiros. Se você não sabe, side band é uma banda formada exclusivamente para acompanhar outros músicos, e os músicos que formam a Blues Groovers juntos ou separados já acompanharam gente do calibre de nomes internacionais como Charlie Musselwhite, Little Jimmy King, Norton Buffalo, Eric Gales, Taj Mahal, e grandes nomes nacionais como Big Gilson (com o nome de Rio Dynamite), Flávio Guimarães, Maurício Sahady e Álamo Leal.
Uma demonstração do domínio do blues que Otávio tem é justamente sua side band. Para se ter uma side band é necessário um bom fundamento de blues e experiência, pois a diferença de cada artista que a banda acompanha a obriga a apresentar um leque de variações, para se adequar e atender ao estilo do acompanhado.
           
Outro motivo que o considero um mestre é o fato de Otávio Rocha ter uma particularidade (a meu ver) que o coloca acima da maioria dos músicos de blues que observo, os seus solos! Além de ser um exímio músico de apoio, seus solos têm a característica principal que um guitarrista de blues precisa, o famoso feeling! O feeling que muitos procuram... poucos o encontram! Você não vai encontrar solos mirabolantes e barulhentos (infelizmente realizado pela maioria dos guitarristas), Otávio é econômico em seus solos de slide, os executa na hora certa, respeitando e trabalhando pela banda, e apresentando uma beleza impar e melodia adequada! Esta característica só é encontrada em mestres do tipo Duanne Allman, Eric Clapton, B.B. King e outros.
As músicas instrumentais de autoria de Otávio Rocha são uma aula a parte de como compor temas simples, mas, agradáveis, com notas certas nos lugares certos, com espaço para improvisar, que nos remete às bandas de blues de Chicago! Características que não são recentes, e são observadas desde o início da discografia do Blues Etílicos.
Todos estes detalhes renderam a Otavio Rocha reconhecimento como um dos melhores guitarristas do Brasil (e em minha opinião um dos melhores slide guitar do mundo), não só pelos apreciadores do blues, mas, da música em geral, tanto o é que o vemos como convidado nos melhores festivais de blues, nos melhores shows de artistas tanto brasileiros quanto estrangeiros, participações em álbuns, etc.!
Grande mestre da slide guitar! Merece nossa reverência!


quinta-feira, 5 de junho de 2014

Estamos voltando!!!!!!!!

Muitas estradas...
E todas voltam ao mesmo lugar!!!
Estamos retomando o blog.... depois de ….????
Temos muitas histórias para contar... muitos blues pra cantar!
Vamos retornar com as poesias, artigos originais, documentários, e outros, que caracterizaram este blog e que por muito tempo ficaram vagando e não foram apresentados.
Quanto ao conto A Balada de Bill Black, que a maioria dos que acompanharam este blog ainda nos cobram e exigem um desfecho... lembrem-se...uma boa história leva-se tempo para ser contata, mas prometemos dar continuidade e apresentar outras.
Pra reiniciar... estamos publicando um documentário dirigido por João Moreira Salles em 1990 (como isso me trás boas lembranças!!!!) na extinta TV Manchete!
A Sociedade está reativada!