quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Shellão - o nosso Blues!!!

Uma das melhores formas de expor o blues é tocando o blues! Sendo assim eu apresento um pouco do blues feito em Minas Gerais, este é Shellão e a Lobo Blues Band!
 Biografia resumida:
Guitarrista, compositor e arranjador, formado pela Fundação de Educação Artística de Minas Gerais, possui experiência com estilos como o Blues, o Rock e o Soul, além de flertar com o Jazz e com a influência erudita e Latina. Shellão é fundador de grupos como Loretta Funkenstein e Hot Spot Blues band, e desde 2000 atua com o grupo AeroBlues, precursor no estado, além de desenvolver um trabalho com a cantora Carol "Big" Jacques. O músico iniciou em março desse ano um projeto solo intitulado Shellão e Lobo Blues Band, e pretende lançar um CD ainda nesse ano que contará com composições do músico na sua fase com os grupos anteriores e outras compostas recentemente, uma fusão muito interessante de várias vertentes que fizeram parte da história do guitarrista que possui aproximadamente 17 anos de carreira.

 

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

O Improviso no Blues parte II

*Oportunidade:
Quando um bluesman improvisa e domina essa técnica ele é procurado pelos donos de bares, artista em passagem pela cidade, é reconhecido pela sua musicalidade, tem maior exposição, ganha prestígio no meio musical, entre outras coisas. Isso retorna em forma de dinheiro, lugares para dormir sem ter que pagar, comida de graça e outros. Ou seja, um bom improvisador tem grandes oportunidades! Quer um exemplo? Quem nunca conheceu um camarada que canta e toca bem um violão, tem uma boa lábia, é chamado para todas as festas da cidade, está sempre sentado em um bar em mesas, pessoas e dias diferentes, e parece nunca trabalhar, mas, sempre está numa boa? Ta explicado?
*Masculinidade:
Vou comentar este item tendo base os violeiros brasileiros. Violeiros porque na minha visão (essa é uma opinião muito particular!) os violeiros têm histórias parecidas com as dos bluesman do início do século passado, eles tocam instrumentos acústicos, usam a mesma afinação, em suas músicas falam sobre seus problemas tanto amorosos quanto financeiros, desastres ambientais, maus tratos que sofreram etc. No meio da viola existem os famosos duelos de violeiros, onde um famoso instrumentista é desafiado por outro em modas de viola e repentes. Estes encontros eram muito apreciados pela população local, e o derrotado era “humilhado” perdendo o posto de “violeiro da cidade”, este perdia inclusive as oportunidades citadas acima. Tamanha eram essas disputas que até a religião entrava no assunto!  Reza a lenda que os violeiros faziam “trato com o tinhoso” usando uma cobra coral encontrada debaixo de uma pedra atrás da igreja... Historias muito parecidas com as famosas encruzilhadas do blues, onde o bluesman fazia um pacto com o diabo trocando a sua alma pela habilidade de tocar e improvisar... Isso é assunto para muitos posts... Enfim no blues era assim que funcionava, gerando inclusive os famosos duelos de guitarra, que eram realizados em prostíbulos e bares de classe duvidosa... como se fosse uma disputa de território! Não se esqueça... Somente os machos disputam territórios... Ou era assim antigamente!
*Domínio sobre o blues:
Um show de blues sem improviso não é blues! O blues é um estilo musical simples em sua parte técnica, mas, o que torna terrivelmente difícil de tocar é justamente a sua limitação técnica e a necessidade do musico improvisar sobre essa limitação. Aqui é onde entra a experiência, a criatividade, a “maldade” do blues, que o musico precisar ter e “saber” para driblar todas as dificuldades, e tocar improvisos lindos que nos fazem “chorar”. Isso é leigamente chamado de “sentimento”. Eu já vi muitos grandes músicos que “tiraram onda” dizendo que o blues é muito fácil de tocar, muito “limitado” e se enrolaram completamente em uma jam com os amigos ou em shows, eles não conseguiram tocar no “básico” de uma pentatônica com blue note em uma progressão de I, IV e V! É meu amigo, quem improvisa bem no blues domina o blues!
Diante do exposto, podemos perceber que tocar bem o blues, e isso inclui improvisar, para aqueles pobres negros sem oportunidades na vida, era uma forma de deixar o estado de extrema pobreza, e alcançar um patamar financeiro, social e até cultural mais alto, nem que isso ocorresse somente dentro do mundo da boêmia.
Quer tocar blues? Então improvise, tenha personalidade, aproveite as oportunidades, deixe a sua masculinidade aflorar e domine o blues!
Abraços e até a próxima!

sábado, 22 de janeiro de 2011

O improviso no blues e o bluesman parte I


Hoje quero falar sobre um tema que instigam tantos os músicos que tocam blues, quanto o publico leigo musicalmente, mas, fascinado pelo estilo musical: o improviso no blues.
O objetivo deste artigo não é debater a questão teórica e musical da arte de improvisar, e sim expor a minha visão particular quanto aos improvisos musicais no blues e a sua influencia na vida dos músicos do início do século XX. Para isso vou levar em consideração a questão histórica que nos diz que o blues foi criado por negros, miseráveis, sem perspectiva ou qualidade de vida, que trabalhavam em fazendas, e tinham pouca ou nenhuma instrução escolar.
Bem... Todos nós sabemos que existem estilos musicais onde as peças são criadas e elaboradas de tal forma, que os instrumentos que dela participam não podem em momento nenhum desviar-se do que está escrito ou programado. Caso isso aconteça o resultado é um total desastre na execução da música. Podemos dar como exemplo máximo a musica clássica, onde a disciplina em execução e concentração é total. Mas, existem gêneros musicais que se não houver improviso, o grupo não toca bem ou não dominam o estilo. Como exemplo podemos citar o jazz e o nosso maravilhoso blues.
Você já percebeu que em vários shows de um mesmo artista de blues podem ter no repertório as mesmas músicas, mas a execução é completamente distinta? Como exemplo pegue bootlegs ou discos ao vivo oficiais de The Allman Brothers, Eric Clapton, Steve Ray Vaughan e Johnny Winter só para ilustrar o que estou dizendo. Agora pegue uma mesma música que esteja em vários shows e você irá notar o que estou falando.
Eu percebi ao analisar a origem dos improvisos, que a sua importância está ligada a: personalidade, oportunidade, masculinidade, e domínio sobre o blues. Tentarei explicar o porquê de cada um destes itens:
* Personalidade.
Não existe no mundo blues uma ofensa maior do que um músico imitar outro músico! Esta é a lei máxima entre os músicos. Você não tem a mesma história de vida que a outra pessoa, por mais que você tenha nascido na mesma região e no mesmo ano, suas experiências são diferentes, a forma de você encarar o mundo e seus problemas é diferente, seu timbre de voz é diferente de qualquer pessoa, seu raciocínio é diferente, portanto, você não pode tocar como outra pessoa, mesmo que tenha estudado, comprado os mesmo equipamentos e tudo mais, você não é aquela pessoa! Quando um bluesman toca seu instrumento ou canta, ele está fazendo do seu jeito, como ele quer e como ele pensa no momento, aquilo é só dele, e acaba se tornando a sua marca registrada. Essa marca torna o músico conhecido, ele é procurado devido àquela marca, o público vem de longe para ver um show daquele bluesman, abrindo para ele oportunidades que falaremos mais a frente. Essa marca fica muito evidente no momento da improvisação, pois é a hora que o músico está livre para fazer o que quiser. Exemplos: o vibrato de B.B.King. Existem músicos fantásticos com vibratos fantásticos, mas, ninguém com o vibrato de B.B.King! As linhas melódicas de Eric Clapton, que chamavam tanta atenção que lhe rendeu o apelido de Deus da Guitarra e Slow Hand. A pegada de Steve Ray Vaughan (esse um dos mais imitados de todos os tempos!!!!), somente ele conseguia tocar daquela forma tão visceral com cordas tão pesadas! Poderia ainda citar o fraseado de Albert Collins, as composições de Muddy Waters, a voz de Howlin’ Wolf, e tantos outros! Mas, o que importa é a prova que a história da música já nos mostrou, onde a personalidade é fundamental e não existem dois iguais! No meio musical quando aparecem imitadores são logo ridicularizados, e o musico de blues só consegue expressão quando se livra da imitação e passa a tocar a sua linguagem. 
Continua........

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Escreva para o blog!


Você é um admirador do blues? Quer participar de nosso blog? Então escreva para nós! Mande seu artigo para avaliação no e-mail sociedadedobluessetelagoas@yahoo.com.br. Participe!!!!!!

Reunião Extraordinária!!!!

A Sociedade do Blues Confraria de Sete Lagoas está convocando os seus participantes para uma reunião extraordinária no dia 22/01 para prestigiar a banda Black Bone, que se apresentará no Route 66 Beer, com participação dos guitarritas Marlon Klein, Guiliano Fernandes e outros. Será uma noite memorável com muito blues!

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

O Blues em mim




Prum office boy que nem eu, o dia do pagamento só tinha aquele prazer(como é o dia de receber prá qualquer operário, proletário ou afim - a certeza de que se poderá aproveitar toda “PERDA DE TEMPO” do “TRABALHO” num prazer, seja ele fugaz ou não):
Manhã de sábado, tarde de quarta feira, enfim, qualquer dia de dinheiro na mão era dia de campear vinis de blues pelos sebos da capital mineira.
“Baby please don’t go...”, “don’t you treat me mean...” “when I wake up in the morning feeling ‘round from my shoes…”, “everyday I have the blues…” por alguma razão parecia que aqueles ex-catadores de algodão, negros semi analfabetos musicalmente auto didatas e exuberantemente limitados tecnicamente, estariam falando de mim, sobre mim e tudo que me circundava, fosse no meu despertar pruma rotina massacrante no subsolo da pirâmide social ou nos meus fins de noite solitários em mesas de bar, sarjetas e exílios(auto impostos ou não...).
Acredito ser essa sensação proporcionada pelo intangível e indizível que está contido na melancolia inerente a vida de todos que habitam as cidades e, parafraseando Ginsberg,  suas ruas negras da madrugada, que faz com que alguém se identifique de pronto com o blues. Me lembro da alegria quando aprendi a escala de blues, ensinada por um vocalista posterior companheiro de jornada musical: então era isso...era utilizando aquelas 5 notas que aqueles caras faziam minha pressão subir, tendo acessos súbitos de satisfação ou tristeza como só um bipolar pode ter! Nunca consegui me desvencilhar totalmente dela e de sua sonoridade, a velha escala pentatônica.
O mítico do blues também não pode ser ignorado: a imagem do jovem Robert ensaiando seu pacto numa encruzilhada qualquer morrendo envenenado(amante ciumenta ou o marido de alguma delas?); Howlin Wolf socando Hubert Sunmlin, e depois arrependido socando a si mesmo arrancando seu próprio dente frontal; Little Walter morrendo de traumatismo craniano e hemorragia interna após ser brutalmente espancado numa briga de bar; B.B. King pai de 15 filhos, todos de mães diferentes; e last but not least(in anyway!): as mulheres! “Baby you got a mean disposition...” No cancioneiro do blues, elas tem o local, talvez de maior destaque de todos. E não há bluesman(leia-se homem) que nunca teve algum mal momento(ou vários...)  por falta ou excesso delas. “Baby look how you got me standin’round crying, you got so many men that I’m afraid to make you my girl...)”
Enfim, o blues está na violência de nossas relações, conosco e com o mundo ao nosso redor, na insatisfação de estarmos no local inapropriado que é reservado aos derrotados enquanto as cadeiras são colocadas sobre as mesas pelo último garçom do último bar aberto(“I’ts three o’clock in the morning...”),e acima de tudo o blues está na redenção que se encontra ao se descobrir maior que isso e ainda ter a dádiva de poder tentar de novo amanhã: o blues fortalece!
Fábio Lopes - músico profissional, artista visual e fingerpainter graduando em Design Gráfico pela UEMG
Ilustrações feitas no iPhone por Fábio Lopes: Muddy Waters, Robert Johnson e John Lee Hooker.



domingo, 16 de janeiro de 2011

Sou Mineiro de Sete Lagoas e Bluesman!!!!!!

Vamos falar de blues! Este é o primeiro post do blog da Sociedade do Blues de Sete Lagoas e... a intenção deste artigo não é chover no molhado, dizer que o blues reflete a alma sofrida dos negros do início do século passado que se destruíam nas plantações de algodão, tinham decepções amorosas, conviviam intensamente com suas crenças religiões e blá blá blá... e mais blá blá blá! Isso é a realidade lá dos EUA, da origem do blues, a nossa realidade brasileira é diferente, por mais que alguns “cabeças” digam que nós também tivemos escravos vindos da África, também temos os menos favorecidos que se matam de trabalhar, também sofremos de amor e cantamos nossos problemas, etc. A vida aqui meu amigo ou amiga, é totalmente diferente, temos cultura diferente! Não quero entrar no critério cultural e explicar porque lá tem o Blues e aqui o Samba! Deixa para um outro post!
O que eu quero comentar ou até justificar é o porquê de várias pessoas de classes sociais, países e costumes diferentes gostarem, ouvirem, compreenderem e tocarem blues, um estilo musical especificamente americano.
Como gosto ou preferência é um assunto que depende de várias variáveis, vou comentar algo que eu particularmente domino por completo, que é contar um pedaço da minha própria história e explicar como o blues me pegou. Vou falar de mim e por mim, um dos criadores da Sociedade do Blues de Sete Lagoas.
Eu sou um homem de 36 anos rodados, pai, doutor, casado e... músico de blues! Minha vida, graças ao bom Deus, foi e é maravilhosa! Não ganhei e não ganho nada de mão beijada, tudo foi, e, é à base de conquistas como qualquer pessoa normal, inclusive você que lê! Não passei fome, não trabalhei nas plantações de algodão, não fiz pacto com o capeta na encruzilhada, nunca viajei clandestinamente em um trem, nunca toquei para comer, nunca dormi em um puteiro e outras tantas histórias que cercam o blues, então isso me desabilita a tocar blues? A ouvir blues? A entender o blues?
Vamos à história:
Em 1990 existia aqui em Sete Lagoas uma lanchonete na Avenida Lassance Cunha chamada Tuí Lanches, lá eu costumava encontrar meus amigos da época, todos adolescentes (16 ou 17 anos) que sonhavam em tocar em uma banda de rock, e essa banda se transformar no novo Guns’n’Roses (essa era a banda top da época!)! Bem, lá estávamos nós curtindo a noite tomando os primeiros tragos, tentando aprender a fumar e a pegar umas gatinhas... e apareceu um daqueles vendedores de fita cassete (você sabe o que é isso, não é?) que eram gravadas em estúdio, eles faziam uma capinha maneira e eram colocadas em pastas executivas para serem vendidas nas ruas, hoje seria o equivalente aos camelôs de dvd pirata que encontramos em qualquer esquina. Esse vendedor andava com um walkman para o cliente ouvir o que ia comprar, e o cara apareceu lá no meio da turma querendo vender suas bugigangas, e nos ofereceu de tudo que tinha musicalmente na época. Então eu brinquei com ele dizendo que queria ouvir algo diferente. O vendedor então colocou no radinho uma fita com o nome Roots Blues. O que eu ouvi nunca mais eu esqueci, era uma coletânea de musicas só com voz, violão e gaita, de canções que os cantores cantavam como se fosse a sua última vez na vida, e tocava um violão que nunca tinha ouvido ninguém tocar! Aquilo me impactou de tal forma que me assustou! Perguntei a ele o que era aquilo, ele me disse que se chamava Blues. Não comprei a fitinha, que eu me lembre eu comprei... não me lembro mais o que eu comprei!!!
E a vida continuou... um dia eu assisti a um documentário (na verdade era meu pai estava assistindo) na extinta TV Manchete chamado BLUES. Eu vi aquilo e disse é isso que eu procuro!!!! Onde encontro isso? Encontrar blues no interior de Minas Gerais no ano de 1990, sem internet, ou qualquer fonte de informação cultural, sendo eu um jovem rebelde sem causa? Mas, se o blues bater em você como bateu em mim, você vai atrás, e como vai!
Bem, fui encontrar minha resposta no exercito brasileiro no 4 GAAe em 1994, lá conheci um recruta colega meu que tinha um tio que morava nos Estados Unidos da América, e mandava uns discos legais de blues para ele... Encurtando a historia, fiz amizade com esse pessoal e gastava toda a minha grana em discos. Na época o CD estava começando e era muito caro... E quem tinha o toca CD era um pessoal cheio da grana! Então vinham os discos de vinil mesmo! Enfim, conheci a nata do blues, Buddy Guy, John Lee Hooker, The Allman Brothers, os três King (B.B, Albert e Freddie), Steve Ray Vaughan, Robert Johnson, e tantos outros!
Apaixonei-me ao ponto que escutar, ler e estudar o estilo já não era o suficiente, eu queria também, tocar...
O que quero com essa história é o seguinte: o blues musicalmente falando é muito simples I, IV e V notas da escala, e mais pentatônica e só! Agora... De onde vem a magia de se tocar e improvisar em músicas “limitadas” tecnicamente sem ficar a apresentação chata e enfadonha? Porque esta é uma música simples de origem rural, de outro país tão distante, que não conseguimos parar de ouvir, que atrai quem é musico ou não, quem entende de blues ou não? Porque aquela única nota de B.B. King nos faz suspirar? Porque o blues de John Lee Hooker nos deixa hipnotizados? Porque as musicas de Buddy Guy são contagiantes? Como até hoje os Allmans nos faz prestar atenção em 15 a 25 minutos de uma jam session, e nos faz “viajar” de tal forma que nem o mais poderoso ácido lisérgico consegue? Eu conheço o meu “porque”, e acredito que você também tem o seu “porque”!
Eu espero ter conseguido expressar como pessoas de diversos lugares do mundo apreciam o blues, tendo como exemplo a minha iniciação no estilo. Nessa procura pelos “porquês” encontrei várias pessoas que hoje me acompanham nas bandas que toco, no meu dia a dia, nos bares que freqüento, colegas de profissão, vizinhos, alunos, pacientes, enfim, pessoas que gostam de blues. E o mais importante, fiz e faço muitos amigos através do blues.
E assim eu e alguns amigos decidimos montar um grupo, uma sociedade, onde poderemos nos reunir para ouvir, escutar e comentar blues, e também conhecer gente nova que também gosta e entende o blues. Você é um destes? Então entre para a Sociedade do Blues Confraria de Sete Lagoas!
Abraços e até a próxima!