Slide
guitar definitivamente não é pra qualquer um! Porque afirmo categoricamente
isso? Digo não pela técnica específica utilizada,
mas, pelo fato de se exigir extremo controle do “ambiente musical” para
provocar nuances corretas e fazer a guitarra slide chorar! Sim, isso mesmo, se
a guitarra no blues canta... a slide guitar no blues chora! E como chora
bonito! Costumo comparar a slide guitar como um cavalo selvagem que você tenta
domar... Você pode até conseguir subir nele, mas, se não tratá-lo corretamente...
vai comer poeira direto do chão!
Mestres
nesta técnica são poucos, podemos entre outros citar Duane Allman, Derek
Trucks, Ry Cooder, Warren Haynes, Sonny Landreth, George Harrison, Dave Hole e
Johnny Winter, e os da velha guarda sendo Elmore James, Muddy Waters, Robert
Johnson, Johnny Shines! Existem muitos barulhentos, que apenas incomodam nossos
ouvidos, e claro, o que é ruim não devemos citar, primeiro porque é antiético e
depois... como dizia a minha avó:” Não fale o nome da coisa ruim senão ela
espalha!”
Mas,
interessantemente temos grandes guitarristas slides no Brasil! Sim, alguns que
particularmente considero mestres, e entre eles está Otavio Rocha.
São
vários os motivos que o considero mestres nesta arte. Entre estes motivos está
o fato que Otavio Rocha (e sua banda Blues Etílicos é claro!), desbravou o
blues no Brasil, junto a nomes como Celso Blues Boy e André Christovam nos anos
80. Sim, o mundo, era bem diferente do que é hoje, principalmente no nosso país
tropical, atrasado em tecnologia e comércio, saindo de uma horrorosa ditadura,
onde não existia internet, TV por assinatura, acesso fácil a importações de
Lps, etc., levando a uma ignorância musical onde ninguém conhecia blues. Claro,
existiam exceções, mas, eram dispersas.
Otávio
neste cenário, conforme inúmeras declarações próprias, aprendeu e desenvolveu a
sua técnica através de erros e acerto, a tornou refinada e apresentou ao
público brasileiro através da sua slide guitar uma linguagem musical “nova”. O tiro
foi certeiro, pois o blues de sua banda foi cativante, e começaram a chamar a
atenção do público, ao ponto de participarem em 1989 do histórico primeiro
Festival Internacional de Blues, na cidade de Ribeirão Preto, abrindo o evento,
tocando na mesma noite que Buddy Guy.
Outro
exemplo de pioneirismo de Otávio Rocha e seus comparsas foi a criação da única
side band do Brasil (pelo menos é a única que eu conheço!) a Blues Groovers com Ugo Perrota
(baixo) e Beto Werther (bateria), respeitados músicos de blues brasileiros. Se
você não sabe, side band é uma banda formada exclusivamente para acompanhar
outros músicos, e os músicos que formam a Blues Groovers juntos ou separados já
acompanharam gente do calibre de nomes internacionais como Charlie
Musselwhite, Little Jimmy King, Norton Buffalo, Eric Gales, Taj Mahal, e grandes
nomes nacionais como Big Gilson (com o nome de Rio Dynamite), Flávio Guimarães,
Maurício Sahady e Álamo Leal.
Uma demonstração do domínio do blues que Otávio tem é justamente sua side
band. Para se ter uma side band é necessário um bom fundamento de blues e experiência, pois a
diferença de cada artista que a banda acompanha a obriga a apresentar um leque
de variações, para se adequar e atender ao estilo do acompanhado.
As músicas instrumentais
de autoria de Otávio Rocha são uma aula a parte de como compor temas simples,
mas, agradáveis, com notas certas nos lugares certos, com espaço para
improvisar, que nos remete às bandas de blues de Chicago! Características que não
são recentes, e são observadas desde o início da discografia do Blues Etílicos.
Todos
estes detalhes renderam a Otavio Rocha reconhecimento como um dos melhores
guitarristas do Brasil (e em minha opinião um dos melhores slide guitar do
mundo), não só pelos apreciadores do blues, mas, da música em geral, tanto o é
que o vemos como convidado nos melhores festivais de blues, nos melhores shows
de artistas tanto brasileiros quanto estrangeiros, participações em álbuns, etc.!
Grande
mestre da slide guitar! Merece nossa reverência!
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