domingo, 16 de janeiro de 2011

Sou Mineiro de Sete Lagoas e Bluesman!!!!!!

Vamos falar de blues! Este é o primeiro post do blog da Sociedade do Blues de Sete Lagoas e... a intenção deste artigo não é chover no molhado, dizer que o blues reflete a alma sofrida dos negros do início do século passado que se destruíam nas plantações de algodão, tinham decepções amorosas, conviviam intensamente com suas crenças religiões e blá blá blá... e mais blá blá blá! Isso é a realidade lá dos EUA, da origem do blues, a nossa realidade brasileira é diferente, por mais que alguns “cabeças” digam que nós também tivemos escravos vindos da África, também temos os menos favorecidos que se matam de trabalhar, também sofremos de amor e cantamos nossos problemas, etc. A vida aqui meu amigo ou amiga, é totalmente diferente, temos cultura diferente! Não quero entrar no critério cultural e explicar porque lá tem o Blues e aqui o Samba! Deixa para um outro post!
O que eu quero comentar ou até justificar é o porquê de várias pessoas de classes sociais, países e costumes diferentes gostarem, ouvirem, compreenderem e tocarem blues, um estilo musical especificamente americano.
Como gosto ou preferência é um assunto que depende de várias variáveis, vou comentar algo que eu particularmente domino por completo, que é contar um pedaço da minha própria história e explicar como o blues me pegou. Vou falar de mim e por mim, um dos criadores da Sociedade do Blues de Sete Lagoas.
Eu sou um homem de 36 anos rodados, pai, doutor, casado e... músico de blues! Minha vida, graças ao bom Deus, foi e é maravilhosa! Não ganhei e não ganho nada de mão beijada, tudo foi, e, é à base de conquistas como qualquer pessoa normal, inclusive você que lê! Não passei fome, não trabalhei nas plantações de algodão, não fiz pacto com o capeta na encruzilhada, nunca viajei clandestinamente em um trem, nunca toquei para comer, nunca dormi em um puteiro e outras tantas histórias que cercam o blues, então isso me desabilita a tocar blues? A ouvir blues? A entender o blues?
Vamos à história:
Em 1990 existia aqui em Sete Lagoas uma lanchonete na Avenida Lassance Cunha chamada Tuí Lanches, lá eu costumava encontrar meus amigos da época, todos adolescentes (16 ou 17 anos) que sonhavam em tocar em uma banda de rock, e essa banda se transformar no novo Guns’n’Roses (essa era a banda top da época!)! Bem, lá estávamos nós curtindo a noite tomando os primeiros tragos, tentando aprender a fumar e a pegar umas gatinhas... e apareceu um daqueles vendedores de fita cassete (você sabe o que é isso, não é?) que eram gravadas em estúdio, eles faziam uma capinha maneira e eram colocadas em pastas executivas para serem vendidas nas ruas, hoje seria o equivalente aos camelôs de dvd pirata que encontramos em qualquer esquina. Esse vendedor andava com um walkman para o cliente ouvir o que ia comprar, e o cara apareceu lá no meio da turma querendo vender suas bugigangas, e nos ofereceu de tudo que tinha musicalmente na época. Então eu brinquei com ele dizendo que queria ouvir algo diferente. O vendedor então colocou no radinho uma fita com o nome Roots Blues. O que eu ouvi nunca mais eu esqueci, era uma coletânea de musicas só com voz, violão e gaita, de canções que os cantores cantavam como se fosse a sua última vez na vida, e tocava um violão que nunca tinha ouvido ninguém tocar! Aquilo me impactou de tal forma que me assustou! Perguntei a ele o que era aquilo, ele me disse que se chamava Blues. Não comprei a fitinha, que eu me lembre eu comprei... não me lembro mais o que eu comprei!!!
E a vida continuou... um dia eu assisti a um documentário (na verdade era meu pai estava assistindo) na extinta TV Manchete chamado BLUES. Eu vi aquilo e disse é isso que eu procuro!!!! Onde encontro isso? Encontrar blues no interior de Minas Gerais no ano de 1990, sem internet, ou qualquer fonte de informação cultural, sendo eu um jovem rebelde sem causa? Mas, se o blues bater em você como bateu em mim, você vai atrás, e como vai!
Bem, fui encontrar minha resposta no exercito brasileiro no 4 GAAe em 1994, lá conheci um recruta colega meu que tinha um tio que morava nos Estados Unidos da América, e mandava uns discos legais de blues para ele... Encurtando a historia, fiz amizade com esse pessoal e gastava toda a minha grana em discos. Na época o CD estava começando e era muito caro... E quem tinha o toca CD era um pessoal cheio da grana! Então vinham os discos de vinil mesmo! Enfim, conheci a nata do blues, Buddy Guy, John Lee Hooker, The Allman Brothers, os três King (B.B, Albert e Freddie), Steve Ray Vaughan, Robert Johnson, e tantos outros!
Apaixonei-me ao ponto que escutar, ler e estudar o estilo já não era o suficiente, eu queria também, tocar...
O que quero com essa história é o seguinte: o blues musicalmente falando é muito simples I, IV e V notas da escala, e mais pentatônica e só! Agora... De onde vem a magia de se tocar e improvisar em músicas “limitadas” tecnicamente sem ficar a apresentação chata e enfadonha? Porque esta é uma música simples de origem rural, de outro país tão distante, que não conseguimos parar de ouvir, que atrai quem é musico ou não, quem entende de blues ou não? Porque aquela única nota de B.B. King nos faz suspirar? Porque o blues de John Lee Hooker nos deixa hipnotizados? Porque as musicas de Buddy Guy são contagiantes? Como até hoje os Allmans nos faz prestar atenção em 15 a 25 minutos de uma jam session, e nos faz “viajar” de tal forma que nem o mais poderoso ácido lisérgico consegue? Eu conheço o meu “porque”, e acredito que você também tem o seu “porque”!
Eu espero ter conseguido expressar como pessoas de diversos lugares do mundo apreciam o blues, tendo como exemplo a minha iniciação no estilo. Nessa procura pelos “porquês” encontrei várias pessoas que hoje me acompanham nas bandas que toco, no meu dia a dia, nos bares que freqüento, colegas de profissão, vizinhos, alunos, pacientes, enfim, pessoas que gostam de blues. E o mais importante, fiz e faço muitos amigos através do blues.
E assim eu e alguns amigos decidimos montar um grupo, uma sociedade, onde poderemos nos reunir para ouvir, escutar e comentar blues, e também conhecer gente nova que também gosta e entende o blues. Você é um destes? Então entre para a Sociedade do Blues Confraria de Sete Lagoas!
Abraços e até a próxima!

Um comentário:

  1. Muito legal, tenho 56 anos sou comerciante em Porto Alegre, sou fascinado pelo BLUES e concordo plenamente contigo este genero pega na gente como um virus. Aqui no sul temos uma comunidade muito grande de bluseiros, muita bandas e muitos apreciadores. Em especial a Merces Blues Band ( Uma homenagem a mae do tecladista e nao ao carro ).Como faco para para ser membro desta confraria. Estou pensando seriamente em conhecer Sete Lagoas nas ferias. Grande abraco e parabens pela iniciativa. Meu email paulojackdaniels@gmail.com

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