segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

O Blues em mim




Prum office boy que nem eu, o dia do pagamento só tinha aquele prazer(como é o dia de receber prá qualquer operário, proletário ou afim - a certeza de que se poderá aproveitar toda “PERDA DE TEMPO” do “TRABALHO” num prazer, seja ele fugaz ou não):
Manhã de sábado, tarde de quarta feira, enfim, qualquer dia de dinheiro na mão era dia de campear vinis de blues pelos sebos da capital mineira.
“Baby please don’t go...”, “don’t you treat me mean...” “when I wake up in the morning feeling ‘round from my shoes…”, “everyday I have the blues…” por alguma razão parecia que aqueles ex-catadores de algodão, negros semi analfabetos musicalmente auto didatas e exuberantemente limitados tecnicamente, estariam falando de mim, sobre mim e tudo que me circundava, fosse no meu despertar pruma rotina massacrante no subsolo da pirâmide social ou nos meus fins de noite solitários em mesas de bar, sarjetas e exílios(auto impostos ou não...).
Acredito ser essa sensação proporcionada pelo intangível e indizível que está contido na melancolia inerente a vida de todos que habitam as cidades e, parafraseando Ginsberg,  suas ruas negras da madrugada, que faz com que alguém se identifique de pronto com o blues. Me lembro da alegria quando aprendi a escala de blues, ensinada por um vocalista posterior companheiro de jornada musical: então era isso...era utilizando aquelas 5 notas que aqueles caras faziam minha pressão subir, tendo acessos súbitos de satisfação ou tristeza como só um bipolar pode ter! Nunca consegui me desvencilhar totalmente dela e de sua sonoridade, a velha escala pentatônica.
O mítico do blues também não pode ser ignorado: a imagem do jovem Robert ensaiando seu pacto numa encruzilhada qualquer morrendo envenenado(amante ciumenta ou o marido de alguma delas?); Howlin Wolf socando Hubert Sunmlin, e depois arrependido socando a si mesmo arrancando seu próprio dente frontal; Little Walter morrendo de traumatismo craniano e hemorragia interna após ser brutalmente espancado numa briga de bar; B.B. King pai de 15 filhos, todos de mães diferentes; e last but not least(in anyway!): as mulheres! “Baby you got a mean disposition...” No cancioneiro do blues, elas tem o local, talvez de maior destaque de todos. E não há bluesman(leia-se homem) que nunca teve algum mal momento(ou vários...)  por falta ou excesso delas. “Baby look how you got me standin’round crying, you got so many men that I’m afraid to make you my girl...)”
Enfim, o blues está na violência de nossas relações, conosco e com o mundo ao nosso redor, na insatisfação de estarmos no local inapropriado que é reservado aos derrotados enquanto as cadeiras são colocadas sobre as mesas pelo último garçom do último bar aberto(“I’ts three o’clock in the morning...”),e acima de tudo o blues está na redenção que se encontra ao se descobrir maior que isso e ainda ter a dádiva de poder tentar de novo amanhã: o blues fortalece!
Fábio Lopes - músico profissional, artista visual e fingerpainter graduando em Design Gráfico pela UEMG
Ilustrações feitas no iPhone por Fábio Lopes: Muddy Waters, Robert Johnson e John Lee Hooker.



5 comentários:

  1. Muito bom o texto(e o blog) passarei sempre por aqui para entender melhor esse "universo".

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  2. Você sempre será bem vinda Mari!

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  3. FANTÁSTICO TEXTO, PERFEITO, NOSSA ALMA A ALMA DO BLUES!

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  4. adorei, o texto é informativo, fácil, leve...
    gosto muito de blues, ele é tão intenso.quero conhecer melhor e ouvir mais...

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  5. Nunca tinha visto ninguem se expressar tão bem em relação ao Blues, Esse estilo unico capaz de trazer verdadeiras emoções a tona. Não sei muito só sei que me disperta!!!

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