quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

A Balada de Bill Black - parte 1


Contos do Blues
A Balada de Bill Black
William Blackmore nasceu em uma fazenda no município de Clarksdale, estado do Mississipi, filho de Emma McGuier. Seu pai um desconhecido, que segundo contam era um viajante sem destino traçado, que de vez em quando aparecia em Clarksdale, principalmente nos dias de festa na cidade. Segundo alguns era um exímio violonista, mas, ninguém sabia a sua origem. Emma então com 15 anos se encantou por aquele misterioso homem, e o resultado de uma noite de festa na fazenda regada a muita musica, whiskey de milho artesanal e hormônios em alta, teve como resultado uma gravidez inesperada.
O pai desapareceu e ninguém teve mais notícias dele. A família de Emma a expulsou de casa não aceitando a condição de mãe solteira da filha. Mas, Emma continuou na fazenda vivendo na casa de uma idosa viúva solidária, tendo que escondeu ao máximo a gravidez para evitar boatos e ser expulsa também de seu trabalho.
O parto foi sofrido com quase a morte do bebê e da mãe, se não fosse à habilidade da parteira local com a grande experiência em trazer à luz os bebês das negras de Clarksdale. Mas, Emma desenvolveu uma infecção generalizada, provavelmente devido a pouca higiene no local do parto realizado as escondidas no estábulo da fazenda. Isso porque o senhor e dono da propriedade, homem este com muito preconceito, não permitiu que uma negra desse a luz em seus domínios, ele acreditava que traria mau agouro para suas plantações e negócios. Por misericórdia de Deus, que abençoou uma velha senhora também negra que ninguém sabia a sua idade, ou de onde ela veio, mas, era profunda conhecedora das propriedades medicinais das plantas, que conseguiu salvar Emma e o bebê.
            Emma ajudada por essa senhora foi trabalhar em outra fazenda, pois não conseguia conviver no mesmo local com a própria família após tê-la expulsado e a humilhado. Ela conseguiu um emprego como cozinheira e mudou-se com o filho para a Watson Farm, uma fazenda localizada no limite da cidade, de propriedade de Robert Watson, um homem branco riquíssimo, dono de inúmeras fazendas naquela região, tendo o seu domicílio lá na própria Watson Farm, dizem alguns que era um homem muito rude, que não gostava das “pessoas de cor”, e péssimo patrão, pois não permitia nenhum dia de descanso nas plantações, e cobrava taxas sobre tudo o que era consumido pelos trabalhadores como alimentação, vestimentas, ferramentas de trabalho, o sustento dos cavalos, mulas e burros que eram usados no campo, e até a água para se jogar nas latrinas nos banheiros usados pelos trabalhadores. Desta forma, os trabalhadores não recebiam nada e ainda deviam sempre algo ao patrão para ser pago no mês que vêm. As famílias de trabalhadores moravam em pequenos apartamentos de um quarto e uma cozinha em um enorme pavilhão, onde o banheiro era coletivo não dividido por gênero. Para tomar banho o que tinham era alguns canos que escorriam água captada de um córrego próximo.
            Foi nesta ambiente de trabalho árduo, preconceito por ser filho de mãe solteira, pouca comida, baixa higiene, racismo, preconceito e miséria que dominava o sul que William Blackmore cresceu. Como a proximidade entre as famílias era muito grande acabou conhecendo ainda na infância dois amigos que teriam grandes influências na sua vida, Bukka Santiago e Paul Morganfield. Bukka era um garoto obeso que apresentava uma dificuldade enorme para aprender, e às vezes até compreender o que as pessoas falavam com ele. Paul era muito esperto, franzino e sempre alerta, se metendo sempre em confusão e apanhando muito do pai, que era um homem muito religioso e não permitia certas brincadeiras de criança. William agora carinhosamente chamado de Bill Black era uma criança muito calada, mas sociável. Já aos seis anos trabalhava como qualquer adulto nos campos de algodão e tabaco, enquanto a sua mãe cozinhava para a família do senhor Watson na casa principal.
Continua...

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