domingo, 20 de fevereiro de 2011

A Encruzilhada - Artigo Sem o Óbvio. Parte I

A Encruzilhada – O que levaria um músico de blues a fazer um tratado com forças espirituais em um encontro de estradas? – Artigo de minha análise pessoal sem o óbvio!

Este final de semana me reuni com os amigos, e entre conversas sobre blues sempre surge assuntos ligados aos mitos ocultos do blues, do tipo o bluesman de “corpo fechado”, o mojo, o osso de gato preto, entre outros. Mas, nessas conversas de boteco sempre se destaca a famosa encruzilhada. 
Falando em encruzilhada logo vem a mente o maior mito do blues o homem que viu de perto o “Pemba”, o “Quatro Patas”, o “Carcará”, o... Capeta! Seu nome é Robert Johnson. A conversa regada a álcool foi se desenvolvendo e um de meus amigos me pediu para escrever algo sobre a encruzilhada no blog. Pensei... esse assunto é muito infantil! Falar sobre o pacto com o diabo que alguns bluesmen supostamente fizeram para terem fama e fortuna... até meus filhos de quatro anos sabem disso!
Então veio o desafio: “Há é? Procure na Internet sobre o tema. Se você achar algum artigo que fale sobre o mito da encruzilhada, e não fale sobre Robert Johnson te pago uma pizza gigante de frango a bolonhesa!” Aí caro leitor... é demais pro meu ego! Topei o desafio e... perdi minha pizza gigante de frango a bolonhesa!!!!!! Não existe, ou pelo menos eu não encontrei nenhum artigo sobre o mito da encruzilhada que não falasse o óbvio sobre Robert Johnson, como o local do pacto que foi na encruzilhada da Route 61 com a 49 (que papo furado! O cara ia encontrar o Demo em um dos maiores entroncamentos de rodovias do Sul? E quem garante isso? Alguém fotografou? Testemunhou?), que tocava de costas para o público porque não podia deixar a platéia ver os olhos do demo (ele não queria que os outros músicos copiassem as suas técnicas!), que morreu latindo e de quatro como um cachorro (já foi envenenado alguma vez? Se não, te garanto, você vai ficar de quatro e latindo de dor!), e blá blá blá... O mesmo de sempre! Os sites e blogs parecem simplesmente usarem a famosa dupla sertaneja Ctrl+c e Ctrl+v. Ninguém analisa nada, ou escreve algo diferente!
Sendo assim, minha proposta é escrever sobre o mito “A Encruzilhada”, analisar e tentar responder a pergunta: “O que levaria um músico de blues a fazer um tratado com forças espirituais em um encontro de estradas?”
Para tentar compreender vamos comentar os seguintes itens, tento como base a cena que um bluesman de 1920 a 1935 encontraria em seu país, como: aspecto histórico cultural da sociedade, perspectiva de ascensão socioeconômica, aspecto psicológico e religiosidade.
- Aspecto histórico cultural
Não sou historiador, mas, sei que a abolição da escravatura americana ocorreu na década de 60 do século XIX. Portanto os negros tinham mais ou menos 70 anos de liberdade levando em conta a década de 30 do século XX que estamos analisando.
Quando foram libertados foram simplesmente “soltos no país”, não receberam ajuda de custo ou qualquer assistência para começar uma vida digna. Tanto foi que alguns continuaram seus trabalhos nas plantações como antes, pelo simples fato de não terem para onde ir.
Infelizmente os ex-escravos foram renegados ainda aos trabalhos forçados, seja nas lavouras no sul, ou nas indústrias no norte. A sociedade americana ainda enxergava os “homens de cor” como seres inferiores, e o racismo imperava em todos os lugares com a intensificação da segregação racial, que chegou ao cúmulo do absurdo de separar lugares no ônibus, bebedouros, igrejas, escolas, hospitais, etc., para brancos e negros. E atrocidades piores como leis que impediam negócios e até casamento inter-racial (para se ter uma idéia a última lei contra casamento inter-racial nos EUA deixou a constituição no fim da década de 60 do século XX!!!), e as inúmeras tentativas de ressurgir a famigerada Ku Klux Klan que era uma sociedade secreta com ideais parecidos com a “superioridade ariana” do nazismo, e promoviam atos abomináveis contra negros, simpatizantes, políticos que tentavam dar dignidade aquelas pessoas, etc. Um dos atos marcantes era queimar igrejas que tinham trabalhos sociais voltados aos negros. Um detalhe importante é que a Klan foi banida e considerada crime hediondo ainda no fim do século XIX, mas, mesmo assim personagens da alta sociedade branca participaram de atrocidades sem serem incomodados pela justiça! Isso nos mostra que o racismo era tão evidente que ultrapassava até a venerada constituição americana, ou seja, não havia leis, o que importava era não permitir a ascensão dos ex-escravos na sociedade.
Podemos notar pelo fator histórico que a sociedade americana naquela época era extremamente conservadora e racista, vendo o negro apenas como força de trabalho e nada mais.
Continua...

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